Postado por Henrique Tonin
em terça-feira, 19 de agosto de 2008.
Este álbum poderia ser apresentado como mais uma das belas obras do compositor argentino Astor Piazzolla, mas tem uma diferença importantíssima e que, creio, justifica sua presença aqui neste blog: a interpretação do quarteto moderno-erudito Kronos Quartet, com a participação do própria Piazzolla, ao bandoneón.
Dentro da longa e densa história musical do século XX, Piazzolla é um dos principais compositores e uma das poucas vozes que se expressaram com alguma liberdade dentro de um meio tão enraizado nas tradições e tão popular como o tango. Suas inovações foram elevadas, por alguns críticos, ao nível de uma nova estética, e sua obra gerou interpretações dúbias e receosas, como a do escritor Jorge Luís Borges, que disse gostar muito dela, mas acrescentando que aquilo não era tango.
As denominações (inclusive a de neo-tango) não importam muito, e este álbum é uma prova a mais da transgreção total de gênero e nacionalidade operada pela música. O Kronos Quartet interpreta com uma sensibilidade incrível o que o músico platino, influenciado como eles pelo jazz e pela música erudita, compôs; e cria uma atmosfera de melancolia, ao mesmo tempo nostálgica e afirmativa, que algumas pessoas (entre elas, Borges) consideravam exclusividade dos tangos compostos em Buenos Aires.