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Mauricio Kagel
Postado por Henrique Tonin em terça-feira, 30 de setembro de 2008.
Post 1: Mauricio Kagel - 1898 & Music for Renaissance Instruments (1999)

Deixo aqui mais uma obra deste fantástico compositor, falecido recentemente.

Quando da "publicação" deste álbum, Mauricio Kagel, tido como um dos mais intransigentes compositores eruditos do Avant-Garde, chegou a gerar desconfianças e discussões maiores do que permitiam supor sua restrita fama.

Um compositor ligado ao teatro do absurdo e à música eletroacústica compondo para instrumentos do renascimento?
Para ele, Contemporaneidade é um conceito que deve estar em permanente revisão, e Music for Renaissance Instruments parece digir-se exatamente à este ponto.

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Post 2: Morre Mauricio Kagel, aos 76 anos. (18 - 09 - 2008)

Recebi a notícia apenas hoje, e só o que posso dizer é que, depois de Ligeti (2006) e Stockhausen (2007), perdemos mais um grande compositor.

Segue-se uma colagem de notícias coletadas em jornais, comentários, citações e impressões pessoais.

Nascido em Buenos Aires em 1931 e radicado na Alemanha desde 1957, Mauricio Kagel chegou a ser um dos mais importantes compositores da segunda metade do século XX.

"Das suas obras solo para acordeón e para piano até a música para filmes (como Ludwig van , de 1969, feita inteiramente de citaçõess de Beethoven) passando pelo vocal e as criações de mais de uma dezena de peças radiofônicas, Kagel suprimiu todas as distancias entre os materiais e os procedimentos. A Pasión según San Bach , oratorio para solistas, coro e orquesta estreado em 1985, é possivelmente sua obra mais ambiciosa. Com textos de época, corais e cantatas, a composição segue um rigor numerológico. Kagel tentou criar ali conexões derivadas do nome de Bach, das letras e das sílabas, e as usou inclusive para determinar os timbres e as dinâmicas.

Sua aguda originalidade não procede da ruptura senão da contaminação, da intimidade irreverente com materiais conhecidos. 'A imagen de um músico químicamente puro não é certa', asegurava. (...) Em sua época heróica, a música moderna tomou distância da produção de óperas para teatros e buscou suportes dramáticos à margen do modelo decimonónico. Kagel, representante das vanguardias posteriores a Darmstadt, os encontrou no cinema, no rádio, e inclusive no quarteto de cordas. Assim, por exemplo, em Nah und Fern (1993-1994), para sinos e trompetes com ruído de fundo, o som presumível de uma fechadura, as passadas obsessivas que sobem uma escada, o gotejar do sino, as fanfarras dos trompetes precipitam no desassossego alegre da música circense. Kagel disse que os filmes eram suas óperas. Esta peça, ao contrário, é um filme virtual e sem imagens." - La Nación

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"Compositor auto-didata, Kagel começou a escrever música aos 19 anos, com o propósito de buscar idéias musicais que se opusessem ao estilo neo-clássico ditado pelo governo de Juan Domingo Perón. Aos 26 anos escutou o conselho de Pierre Boulez, viajou para a Europa e se estabeleceu em Colonia, então considerada a Meca da Vanguarda musical européia, onde passou a integrar a chamada segunda geração de compositores de Darmstadt.

Em 1969, se converteu em diretor do Instituto de Nova Música na Eheinische Musikschule de Colonia, sucedendo Karlheinz Stockhausen à frente dos Kölner Kurse für Neue Musik." - El País

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Teve aulas particulares de piano, violoncelo e clarinete, além de estudar harpa, por insistência de sua mãe. Seus únicos estudos formais foram os de Filosofia e Literatura. Foi o fundador da Cinemateca Argentina e dirigiu a orquestra de câmara do Teatro Colón. Já nesta época, o escritor polonês Witold Gombrowicz, que ainda se achava radicado em Buenos Aires, disse: "Mauricio Kagel é o melhor compositor da Argentina." Mais tarde, John Cage diría o mesmo, referindo-se à Europa...

Suas peças caracterizavam-se por exigir sempre uma combinação originalíssima de instrumentos. Um dos melhores exemplos éTorre de Babel, trabalho coral para 18 vozes e 18 idiomas.

Declarou, certa vez, que "A música é a substituição de uma linguagem possível."

Era conhecida sua obsessão pela parte performática da execução musical; orientados neste sentido, os músicos faziam comentários verbais ou imitavam sua própria interpretação e as de seus companheiros. A tônica das suas peças era o sentido de dificuldade, ironia e confusão. Não é difícil perceber em sua obra o sentido profundamente dramático e o desejo de não permitir que a sensibilidade seja preservada em um invólucro musical para ser meramente admirada. Em uma das suas últimas cartas, comparou a gama de sentimentos que perpassa a mente do compositor à que é produzida no ouvinte, dizendo que, por isso, uma partitura é como uma carta de amor, onde estes sentimentos devem ser expressos. "Daí, diz ele, surge a nescessidade de levá-los também ao público mediante a prolongação do som no gesto visual".

R.I.P.

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