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German Oak - German Oak (1972)
Postado por Henrique Tonin em quinta-feira, 30 de outubro de 2008.

Este grupo não é apenas um dos mais obscuros do Krautrock, como também o mais controvertido. Comece pelas capas, títulos e pelo próprio nome, saturados de referências ao período do domínio nazista na Alemanha. A banda explicou, entretanto, qual era a fonte das suas preocupações: não a exaltação do Terceiro Reich, mas a lembrança dolorosa da perda de familiares e da angústia vivida enquanto as bombas aliadas despedaçavam suas cidades. Como imaginar a situação de quem viveu a dupla humilhação do que seu próprio país fez, primeiro, e do que fizeram dele depois? Certamente, os que se detém em sutilezas para atacar reações do gênero nunca pararam para pensar que as lembranças angustiosas provém da fome, da miséria e do desamparo dos sobreviventes comuns, e não do enforcamento público dos seus líderes.

A verdade é que poucos sobreviveram integralmente à Segunda Guerra mundial. A questão, aliás, é bastante complexa e vai além da mera sobrevivência física. Para citar um exemplo, Antonin Artaud escreveu mais de uma vez que esteve morto nos transes do eletrochoque... Alguns cometeram suicídio quando a guerra acabou, porque o que haviam presenciado não permitia que continuassem no mundo como antes; à décadas de distância do seu fim, o terror seguia matando intelectuais, poetas e anônimos; Paul Celan, Jean Améry... Parte da reação se deu pela arte dos que restaram. A poetisa argentina Alejandra Pizarnik disse, certa vez, que escrevia para "exconjurar"; e o German Oak parece ter feito o mesmo. Suas músicas, em que o estraçalhamento sonoro mescla-se com discursos de Hitler e sons de sirenes, invocam a destruição física, o desamparo e a angústia ainda vivos. As frases, ritmos e ruídos são meticulosamente repetidos, martelados; um assassínio estético que para o ouvinte comum deve soar tão repulsivo quanto os campos de concentração. Podem acusá-las de soar um tanto "mecânicas", mas por que não acusar de mecânicas composições que repetem e produzem em série melodias e temas banais? Já vi músicas como estas serem acusadas de insensibilidade; mas, afinal, por que a sensibilidade deveria ser algo alegre, colorido e alado como às vezes imaginam escritores de segundo nível? Além disso, sob a aparência de caos estão alguns dos mais densos experimentos psicodélicos da década (algo obscuros e opressores, é verdade).

Têm-se dito que as experiências do German Oak prenunciam o industrial, embora seja certo que jamais atingem o nível de desconstrução e violência de um Machine Gun, por exemplo. Mesmo dentro do Krautrock, houveram experiências mais arriscadas. As estruturas da música não são tão brutalmente atingidas, embora os "hábitos" da nossa percepção sim sejam contestados por algo que foge aos padrões considerados "normais", ao que comumente é encarado como arte. E isso é muito, sobretudo numa época em Stockhausen tem sua participação no Sgt. Pepper's limitada a uma aparição entre os rostos da capa. Aliás, já que estamos falando de Stockhausen, o próprio escreveu que “ao revolucionar nossa maneira de ouvir, a música eletrônica pode revolucionar nossa maneira de viver... É interessante ver que o Kraut é uma das cenas mais elogiadas e louvadas, mas raramente se atribui a ele este mérito. (O mestre alemão, ao contrário, deve ter dado longos sorrisos pensando no que seus "discípulos" fizeram).

Quanto aos aspectos gerais, o álbum vai de uma psicodelia de San Francisco totalmente transfigurada e obscurecida à verdadeiras sessões de noise (ainda um pouco precárias). Algo muito interessante é o uso de diferentes procedimentos sonoros para explorar fatos específicos (o bombardeio criminoso de Düsseldorf, os bombardeios não menos criminosos de Londres pelas bombas voadoras alemãs, etc.), muitas vezes degenerando no macabro ou no humor negro. Para dar só um exemplo: na faixa que trata das bombas V1 lançadas contra Londres, começa-se por um tema mais ou menos festivo e belicista, e termina-se pelo badalar de um sino, enquanto pássaros cantam, como na pintura sonora de um velório.






Entre outras bizarrices,
(curiosidades)
- O álbum foi gravado em um Bunker.
- Os integrantes ocultavam-se sob cognomes como Caesar, Ulli, Harry, Warlock e Nobbi.


Wolfgang Franz "Caesar" Czaika - lead & rhythm guitar
Ullrich "Ulli" Kallweit - drums, percussion
Harry Kallweit - bass, vocals
Manfred "Warlock" Uhr - organ, vocals
Norbert "Nobbi" Luckas - guitar, noises
Moerly - bass


1- Airalert
2- Down In The Bunker

3- Raid Over Duesseldorf
4- 1945 - Out Of The Ashes

Bonus:

5- swastika Rising

6- The Third Reich

7- Shadows Of War

a. Rain Of Destruction

b. V1 To London

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