Atendendo a pedidos, subo novamente este belíssimo álbum em que os Aka Pigmeus (que são pigmeus africanos) monstram sua fantástica música, repleta de polifonias e polirritmias. Os pigmeus possuem certas peculiaridades: ao contrário da música ocidental, eles não possuem um sistema de escrita, durações e alturas que explique e "organize" sua música. Tudo, apesar da grande complexidade do ponto de vista erudito ocidental, é passado via oral não se sabe por quantas gerações.
Quando ouço esse álbum, que também consta com a participação de obras de Ligeti e Reich baseadas nos estudos da música tradicional africana, logo me surgem questionamentos: por que a "civilização" nos levou (e nos leva) a uma maior homegeneidade de pensamento? Necessidade de convivência, de regras, de previsão, de parâmetros facilmente inteligíveis?... Sistematização gera afastamento da música enquanto expressão natural?
Aqui se vê o homem moderno tentando manter, entender e celebrar suas raízes; se ouve o mistério da música no tempo e um pouco da sua vastíssima e diversa utilização e cultivo pelo ser humano.
No mais, parte dessas peças para piano de Ligeti se tornaram peças-chave no novo repertório pianístico da música ocidental, sendo consideradas um novo fôlego e rumo na forma de se compor para piano. A "Clapping music" de Reich é conhecida por derivar inúmeros ritmos de uma única série inicial feita a duas palmas. Enquanto uma palma se mantém constante do início ao fim, outra tem uma única palma mudada de posição a cada repetição da série; o resultado é a formação de inúmeros e complexos ritmos.
A todos uma boa audição.
Marcadores: Aka Pygmies, György Ligeti, Steve Reich