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Valentin Silvestrov - Requiem for Larissa
Postado por Andre Carvalho em terça-feira, 16 de outubro de 2012.



Valentin Silvestrov trabalha a forma com a qual as nossas emoções, tradição, cultura, antepassados e lembranças estão relacionados. De que forma nós “sentimos”  nossas memórias. Sem dúvida, o empenho nesta espécie de trabalho deve ser imenso, dada a dificuldade e subjetividade do tema. No entanto Silvestrov sai-se magistralmente bem, e coloca seu nome entre os grandes compositores do século passado e atual.

Silvestrov nasceu em Kiev, Ucrânia em 30 de setembro de 1937 e faz parte do chamado “minimalismo sacro”. No início, quando sua música começou a chegar em outros países (mais especificamente nos Estados Unidos), fora acusado de ser “demasiado expressivo”. O filósofo Theodor Adorno saiu em sua defesa alegando ter Silvestrov a total liberdade em sua criação, no sentido de compor respeitando o que acreditava.

Em seu trabalho vemos influência de Mozart, Tchaikovsky e Mahler, tendo herdado de Tchaikovsky a sensibilidade de criar temas profundamente “psicológicos”, e de Mahler o expressivismo.

A primeira obra que postarei (de uma série) será seu Requiem for Larissa. Uma de suas obras mais expressivas e também mais importantes.

A história deste Requiem incomum, é interessante e ao mesmo tempo sombrio. Silvestrov o compôs em 1998, dois anos após a morte inexplicável de sua esposa,  a musicologista Larissa Bondarenko, pessoa a quem tanto amava. Larissa estava completamente bem de saúde quando tivera um mal súbito, foi rapidamente internada em um hospital onde veio a falecer pouco tempo depois. Os médicos não encontraram causa aparente para a sua morte, o que certamente tornou a situação mais complexa e dificil de aceitar por parte de Silvestrov.
Este requiem não possui a estrutura usual de um requiem, dividido por movimentos e não por os hinos que compõem a missa fúnebre (possuindo apenas alguns destes hinos), este é o primeiro detalhe ao qual atentamos logo de início. O segundo, e extremamente interessante, é que a parte onde originalmente o finado é julgado por Deus, fora substituído por um poema, onde o poeta ciente de sua morte, despede-se com palavras de dor e melancolia, porém estas palavras são honrosas e dignas, pois ele, o poeta, pode dar adeus sem a necessidade de mediação de outro; da mesma forma, não me parece haver ninguém mais apto a desenvolver qualquer tipo de crítica ou julgamento sobre nossos atos do que nós mesmos.  O poema em questão chama-se “O Sonho” ("Goodbye, O world, O earth, farewell / Unfriendly land, goodbye! / My searing pain, my tortures cruel / Above the clouds I'll hide / And as for you, my dear Ukraine / I'll leave the clouds behind / And fall with dew to talk with you / Poor widow-country mine / I'll come at midnight when the dew / Falls heavy on the field"), sendo escrito no séc. XIX pelo poeta ucraniano Taras Shevchenko quando este foi expulso da Ucrânia pela família real, após “versos ofensivos” contra a rainha; encarando a extradição de sua amada terra natal como a  própria morte, a dimensão psicológica e cultural deste poema (ainda exponenciabilizado por Silvestrov) é assombrosa.
O requiem de uma forma geral desenvolve-se em uma atmosfera angustiante, frases que iniciam-se otimistas não são terminadas, são bruscamente interrompidas, tornam-se pessimistas, os últimos suspiros sempre acabam sendo desesperançosos. Os solistas emergem em meio ao coro, retornam e emergem novamente, as coisas desmoronam e reconstroem-se só para tornarem a desmoronar. Os três primeiros movimentos possuem caminhos tortuosos, difíceis, quase impenetráveis, como se fosse necessário ter de passar por isso para ser envolvido completamente com o quarto movimento, perceber toda a sua beleza; sem dúvida, a hermeticidade dos três primeiros movimentos exponenciabilizam os sentimentos indescritíveis do quarto movimento (o qual possui o poema de T. Shevchenko), sendo o que considero,  a mais bela peça coral do século XX. O quinto movimento possui o poema “The Messenger” para cordas e piano, composto no ano de 1997 em memória de sua esposa. Os últimos três movimentos não são últimos, pois não possuem tempo, como grande parte dos trabalhos do compositor.

Os trabalhos do Silvestrov parecem criar novos sentimentos ainda inominados  ou despertá-los; talvez eles sempre estiveram ali, apenas não se manifestaram por falta de algum estímulo externo verdadeiramente forte, superior, que correspondessem tal qual eles são. Obra imprescindível.  









1. Largo
2. Adagio - Moderato - Allegro
3. Largo - Allegro moderato
4. Largo
5. Andante - Moderato
6. Largo
7. Allegro moderato


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