Postado por Lucas aka
em quarta-feira, 10 de dezembro de 2008.
Todo mundo tem seu músico no qual defendem com unhas e dentes, e hasteiam sua bandeira onde quer que for possível e válido. Todo mundo tem seu lado fãboy. E comigo esse lado se chama Tom Zé. Não consigo engolir o fato de pessoas verem ele como um senhor de 70 anos que ninguém deu bola antigamente, e que depois de virar amigo de David Byrne, foi vomitado novamente ao mundo.
Não. Se enganam aqueles que pensam que sua excentricidade não tem fundo, ou plano. E Tom Zé já mudou e quebrou muito conceito e pensamento meu, de verdade, depois que compreendi, mudei completamente minha visão sobre o nordeste, e me encantei, encantei pela cultura daquela terra. Me abriu portas para Alçeu Valença (outro músico genial), Hermeto Pascoal e ai para qualquer coisa de música livre é só um escorrego.
Se Tom Zé foi reconhecido no exterior, ele tem um motivo. E esse motivo está aqui:
1976
1. Mã 2. A felicidade 3. Toc 4. Tô 5. Vai [Menina amanhã de manhã] 6. Ui! [Você inventa] 7. Doi 8. Mãe [Mãe solteira] 9. Hein? 10. Só [Solidão] 11. Se 12. Índice Mas o que teria demais em um disco com uma capa branca, arames farpados e cordas para chamar a atenção de Byrne? Respondo com uma pergunta: Um convite ao regional, demonstração de uma ambientação típica de roça, ou uma crítica gritando sobre o Samba estar preso e em um caminho espinhoso e tortuoso? Na verdade, as duas coisas, e muito, mas muito mais.
O disco é um estudo divertido e crítico do samba, visto de todos os ângulos e sobre ele até mesmo antes de ele existir, onde cada música representa ele em uma forma, e de maneira mestral: Cantiga de roda (mã), maxixe (vai), samba canção (só), bossa nova, com uma releitura maravilhosa de A felicidade de vinicius e jobim, e até uma espécie de pós samba, com Toc. E como um estudo que se preze, há um Índice, genialmente construido, lê o disco inteiro para o ouvinte. Assim, cravado no básico músical que cria o samba, Tom Zé se faz livre, e espalha suas farpas divertidas, extravagantes e ao mesmo tempo discretas, e ainda sim homenagêia o estilo mais brasileiro que existe, aliando o pop, o erudito e o regional em uma experiência única que infelizmente, os gringos viram antes, mesmo descobrindo mais de 20 anos após sua existência. Ironia do destino para o pobre brasileiro Tom Zé? Talvez. Ah, e prestem atenção na maravilhosa qualidade de produção e de som, que mesmo em 128kbps os graves e a maioria das frequências é limpa e visível, chegando a ser impressionante para uma produção brasileira feita em plena década de 70. AkaakA assina este post.
PS:Este é o principal dos três posts referentes a série 'estudos' de Tom Zé, da qual ainda postarei Estudando o Pagode, e Estudando a Bossa, ambos recéntes e interessantíssimos.