Postado por Henrique Tonin
em segunda-feira, 27 de outubro de 2008.
Las Orejas y la Lengua é uma extraordinária banda argentina, recomendada por Chris Cutler como uma das essenciais para os apreciadores de R.I.O., embora a banda se considere fora do gênero. Para falar sobre sua música sem distorcê-la, cito as palavras do baixista Nicolás Diab, numa entrevista já publicada aqui:
" (...) a música de Las Orejas, ainda que responda a algumas fórmulas do rock, é abstrata e as músicas não contém mensagem alguma. São só o produto da imaginação do grupo e da reação que nos provocam nossos ouvidos ao escutá-la. (...) Não existe um afã desmedido por fazer algo diferente, é o que nos sai. Se tentamos tocar algo com um ar jazzístico, folclórico, tangueiro, ou o que seja, nos sai algo espantoso"
Na minha opinião, trata-se de uma das bandas mais criativas e geniais da atualidade, que conseguiu atingir um estágio de interação invejável entre os músicos. Sua música é a um só tempo cerebral, sangüínea, epitelial e etérea; hedonista, obscura e intemporal.O que se pode apreciar nas suas composições não é meramente a sofisticação do trabalho instrumental, mas a impressão de que a própria matéria viva (?) da música foi trabalhada.
Por mais bem-vindos que sejam os elogios de Chris Cutler e as classificações da crítica especializada, a rejeição ao rótulo de R.I.O. é bastante compreensível. Creio que nenhum outro grupo latino-americano chegou a possuir um identidade tão própria - nem Bubu ou Akinetón Retard (que soam quase a-nacionais), nem os excelentes grupos mexicanos (que abusam de sua nacionalidade). Aparte as (enormes) diferenças, a liberdade criativa do LOyLL só se compara à dos grupos originais do R.I.O. e aos do cenário japonês atual (que também fogem às classificações).
O humor sempre foi um componente importante, mas melhor refletido no segundo álbum. A faixa que o encerra desenvolve-se em torno da palavra "Córdoba", pronunciada exaustivamente por dezenas de vozes em todas as entonações possíveis, e termina com uma colagem de 120 pessoas pronunciando seu nome completo.
A música tem o poder de evocar lembranças apócrifas e nos levar a viver desgraças ou alegrias alheias. Algumas, mais raras, tem o poder de nos fazer sentir o pulsar de uma vida que nos é estranha; as cores, formas, volumes e timbres do que ainda não existe ou do que já deixou de existir. La Eminencia Inobjetable (2002)
Faixas: 1. Así Suenan Tus Ojos (3:45) 2. Las Mil y Una Formas de Acabar con la Tragedia de Occidente (3:56) 3. Guaresimia (4:31) 4. Fugaz en la Ciudad Antigua (3:11) 5. $ 5000 de F. Kropfl (1:35) 6. Saltar y Brincar (2:10) 7. Teletito (2:55) 8. Anzuelo para Fennanno (0:48) 9. Ignacio (4:14) 10. Gastando las Vacaciones Limpiando Casas (4:57) 11. Tratado (4:40) 12. Irremediable Muerte del Sr. Sandoval y Su Chica la Sodomita (6:14) 13. Igual que Ayer o Peor [bonus track] (1:35)
Tempo total: 44:31
Line-up: - Rogelio Corte / flute, exclamations - Fernando de la Vega / drums - Nicolas Diab / bass, contrabass, mandoline, tapes, drum machine, vocals, piano (4) - Diego Kazmierski / piano, synthesizers, sampling, drum machine - Gate Leiras / electric guitar, bandora, mandolin, tapes, vocals, additional drums (6)
Guest musicians: - Moxi Beidenegl and Renata Frigeiro / vocals (2) - David Langer / derbuke (10) - Pablo Petito / flugelhorn (4), trumpet (9) - Horacio Straijer / marimba (13) - Diego Suárez / flute (13) - Lena Tempich / Jew’s harp (9)
Músicos: - Fernando de la Vega / drums, faucet percussion, xylophone - Nicolas Diab / bass, electric guitar, mandolin, contrabass, fender rhodes, bandora - Diego Kazmierski / piano, organ, fender rhodes, keyboards, sampling - Diego Suárez / flute, piccolo